terça-feira, 26 de maio de 2015


PIONEIRISMO
HUOL utiliza larvas de mosca para tratamento de feridas em pacientes
Tratamento pioneiro no Brasil, profissionais e pesquisadores do HUOL/UFRN estão utilizando larvas de moscas em pacientes como terapia em ferimentos de difícil cicatrização

O Hospital Universitário Onofre Lopes é pioneiro no Brasil no uso do Desbridamento Biológico em humanos, termo técnico utilizado pelos profissionais para a aplicação intencional de larvas de moscas em ferimentos de difícil cicatrização. Desde 2011, o projeto “Uso da Terapia Larval no tratamento de úlceras de difícil cicatrização em pacientes no Hospital Universitário Onofre Lopes”, é desenvolvido por uma equipe do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFRN, juntamente com a Comissão de Curativos do HUOL.
A coordenadora do projeto e professora da UFRN Renata Antonaci Gama enfatizou que a aplicação em humanos é pioneira no Brasil, porém é utilizada comumente nos hospitais dos Estados Unidos, Europa e alguns países da América do Sul, como o México.
O desbridamento biológico consiste na utilização de larvas estéreis de moscas criadas em laboratório sobre úlceras crônicas com a presença de tecido morto, na finalidade de otimizar a cicatrização destas lesões. Após a captação dos insetos no meio ambiente, manutenção do mesmo em laboratórios, poedura e esterilização dos ovos, as larvas são encaminhas ao hospital onde são aplicadas sobre as úlceras. Elas são necrobiontófagas, isto é, alimentam-se de tecidos mortos de um animal vivo. Atualmente são utilizadas duas espécies: a Chrysomya Putoria e Chrysomya Megacephala. “Elas auxiliam na cicatrização alimentando-se somente de tecido necrosado, pus e bactérias, preservando a parte saudável do ferimento”, enfatizou Renata.
As larvas são colocadas e mantidas na ferida durante 48 horas. Nesse período, ingerem a parte morta, pus e bactérias que, ao passar pelo sistema digestório, morrem. Adicionalmente, nesse processo, ao se locomoverem sobre a lesão, liberam amônia e proteínas cicatrizantes que matam as bactérias, estimulando a cicatrização.
A enfermeira da Comissão de Curativos do HUOL, Julianny Barreto Ferraz, explicou que o tratamento de rotina para a eliminação da pele necrosada de feridas é comumente realizado de forma cirúrgica, por meio de raspagem utilizando um bisturi. Todavia, ao raspar a pele morta, parte do tecido vivo também se perde, pois não há como separar os dois, o que torna essa prática muito agressiva e dolorosa para o paciente. Já a terapia larval é uma alternativa mais seletiva, pois não atinge a parte boa da ferida.
Outro fator importante citado por Julianny foi que “estudos realizados comprovam que o custo do desbridamento biológico é dez vezes mais barato que o cirúrgico, pois o tratamento cirúrgico envolve todo um arsenal de material e equipe para realizá-lo. Faz 33 anos que trabalho como enfermeira, e nunca vi algo que limpe uma ferida como a terapia larval”, afirmou.
Este projeto teve início em 2011, obtendo excelentes resultados nos pacientes que receberam a terapia larval. Logo, muitos fatores comprovaram o procedimento como uma alternativa viável, tanto do ponto de vista econômico quanto científico no tratamento de feridas e um importante aliado na diminuição das amputações. Entretanto, os pesquisadores destacaram, “nossa expectativa é conseguir financiamento para cultivar larvas em larga escala” afirmou Renata.

O Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte é filiado à Ebserh, estatal vinculada ao Ministério da Educação, e atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
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